Quais motivos me levaram a buscar conhecimento em tecnologia e segurança da informação

Herbert Toppani Oliveira

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Quais motivos me levaram a buscar conhecimento em tecnologia e segurança da informação

A todos colegas advogados, venho por meio deste artigo compartilhar o meu depoimento profissional e por quais motivos optei por uma especialização em defesa cibernética.

Saliento que todos os argumentos aqui listados são baseados nas minhas experiências e percepções as quais fui exposto em minha carreira, e não necessariamente traduzem 100% o cenário atual brasileiro.

Espero que gostem!

O FIM DA ADVOCACIA TRADICIONAL

Durante meu curso de direito, sempre foi amplamente difundido pelos professores que o profissional dessa área deve ter o estudo como norte, afinal, todos os dias estamos suscetíveis a mudanças em legislações, entendimentos jurisprudenciais, e tantas outras variáveis as quais devemos nos atentar para sempre buscar a melhor solução de um problema para nossos clientes.

São cinco anos de curso contínuo que, em tese, nos capacitam para atuar nas mais diversas áreas do direito, porém, ao se formar, o bacharel tem que encarar o tão famigerado exame da ordem dos advogados do brasil, para só assim, conseguir atuar efetivamente como advogado.

Mas, o que ninguém me preparou na faculdade, foi o cenário altamente competitivo que eu teria que enfrentar se quisesse me destacar como advogado.

Segundo dados do IBGE, em 2021 o número de advogados do brasil era cerca de 1,3 milhões de profissionais, o que equivale, em média, a 1 advogado para cada 164 brasileiros.

Esse número só tende a aumentar, visto que são mais de 1.200 cursos de direito em faculdade pelo Brasil inteiro, número esse que é maior que o número total de universidades que oferecem o curso, pasme, NO MUNDO INTEIRO!

Quanto a atuação do advogado em si, além de um cenário sem muitas perspectivas de crescimento nos escritórios já consolidados, se mostrou, para mim, uma profissão muito presa a “maneira tradicional” de se trabalhar, com poucas chances de aprender coisas novas e baixa flexibilidade de horários.

Nesse mercado disputado, a advocacia tradicional vem se mostrando um modelo pouco eficiente para solucionar os problemas que cercam nossa sociedade e, cada vez mais, vem perdendo espaço para a advocacia moderna, com menos burocracia, comunicação clara e mais dinamismo para lidar com as problemáticas dos clientes. Esse novo modelo de profissional precisa ter um conhecimento multidisciplinar e estar sempre inteirado das soluções inovadoras que surgem nas mais diversas áreas de conhecimento.

Infelizmente, são poucos os colegas que percebem essa dinâmica arcaica e “acordam” para essa nova realidade. A advocacia como conhecemos, está com os dias contados.

A LGPD NO BRASIL

Na minha experiência profissional, em função da afinidade com o tema, optei pelo direito digital como área de atuação, e por ser um tema cheio de termos e conceitos próprios, eu tive que aprender a “traduzir” esses termos mais técnicos para meus clientes, pois caso contrário, acabava criando ruido na comunicação e não ajudando em nada.

Com o advento da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), houve um grande movimento de colegas que começaram a atuar na adequação das empresas e organizações a lei, e claro, comigo não foi diferente.

A LGPD parecia ser um “oceano azul”, termo esse que é uma espécie de slogan para “um mercado totalmente novo e sem concorrência”.

Fiz os cursos de capacitação teórica, o qual tive uma introdução as normas ISO da família 27000, procedimentos  de continuidade de negócio, governança de dados, compliance e due dilligence digitais, entre outros. Com essa bagagem, comecei minha atuação nas empresas clientes do escritório. Tudo fluía muito bem, mas eu sempre me questionava da parte mais prática do tema, a citar, por exemplo, como efetivamente proteger a integridade desses dados? Ou ainda, como se fazer cumprir todos esses direitos dos titulares e requisitos impostos pela LGPD?

Foi com esses questionamentos que comecei a enxergar a complexidade do tema, e abordá-lo de uma maneira diferente, pensando de maneira mais alinhada com o cotidiano das empresas.

Foquei meus esforços na transferência de metodologia para os gestores, através de treinamentos ministrados por mim, e no entendimento geral da organização sobre o tema, com objetivo de alcançar a mudança cultural do ambiente empresarial.

Entretanto, não é comum encontrar um profissional que consiga aplicar a LGPD dentro do contexto empresarial, e pela novidade do tema, infelizmente, muitas empresas ainda não entenderam a necessidade de se adequar à lei.

Um fator que destaco é que, o brasileiro, geralmente, tem um perfil mais reativo, ou seja, não se preocupa muito com a prevenção de um problema, e sim, na solução deste quando ocorre. E o pior, em alguns anos de vigência da LGPD, com inúmeros casos de incidentes e violações de dados pessoais saindo constantemente nas mídias, nenhuma multa ou ação efetiva da ANPD sequer foi aplicada.

As autoridades, por sua vez, já afirmaram que a atuação da ANPD é mais no sentido de conscientização do que, efetivamente, saírem aplicando multas a rodo aos empresários.

Ao longo do tempo, ficou bem comum ouvir dos meus clientes que a LGPD é um tema importante, porém, não é a prioridade da empresa naquele momento, e o tal do “oceano azul” também se mostrou uma falácia, com o mercado crescentemente sendo inundado de “soluções mágicas LGPD” e afins.

PRIMEIROS PASSOS NO CAMINHO DA ESPECIALIZAÇÃO EM DEFESA CIBERNÉTICA

As ameaças virtuais continuam a ser um ponto de preocupação. Somente no primeiro semestre de 2022, segundo a CNN, foram registradas 31,5 bilhões de tentativas de ataques cibernéticos a empresas. 94% superior ao primeiro semestre do ano anterior (2021). Entender as ameaças é fundamental para se prevenir.

Frente a essa realidade, vi a necessidade de direcionar meus estudos para a proteção dos ativos da empresa, abordando a proteção da informação em si, e no caminho, olhar para a LGPD também. Para adquirir esse conhecimento optei pela especialização em tecnologias em defesa cibernética.

Ao contrário do se pode pensar, essa área tem total sinergia com o direito e com o cenário atual das relações jurídicas, pois é no poder judiciário que ocorrem as discussões sobre casos de vazamentos, crimes digitais ou inconformidades com a LGPD.

Essa escolha realmente foi um “divisor de águas” em minha carreira, pois logo nos primeiros dias de estudo, pude experienciar uma melhora significativa na comunicação com os meus clientes, um olhar mais analítico para cada situação prática e uma melhor orientação para solucionar determinados problemas do dia a dia.

Do ponto de vista do contencioso é ainda mais enriquecedor, pois, com essa formação, foi possível entender como esses profissionais de tecnologia atuam, e usar esse conhecimento na defesa dos interesses de meus clientes em juízo, aumentando a taxa de êxito nas ações judiciais.

E o melhor de tudo, é que com esse conhecimento, também se abre a possibilidade da atuação em uma dessa áreas, podendo atuar tanto como perito  judicial,  como em consultorias para empresas e organizações.

Gosto de pontuar que, embora tivesse uma certa afinidade com o tema, nunca passei nem perto de programar alguma coisa, e confesso, não foi fácil no começo. Todavia, como tudo nessa vida, com esforço e dedicação foi possível vencer essa barreira.

Contei com excelentes professores que me ajudaram e me direcionaram nesse começo, e foi fundamental para minha progressão nessa área até então desconhecida.

Arrisco dizer, qualquer pessoa que vença essa barreira inicial, com certeza vai se apaixonar. Digo isso por experiência própria, pois comecei a querer saber mais e mais sobre tecnologia e segurança da informação.

Hoje em dia percebo o quão eu estava cego para o mundo da segurança da informação, e que esse conhecimento adquirido deveria ser um conhecimento padrão de todos os colegas advogados, não importando sua área de atuação.

Por isso, recomendo fortemente aos colegas que busquem uma formação em defesa cibernética, pois, além da notável melhora na atuação com a LGPD, os problemas (cíveis, penais, tributários, entre outros) estão migrando para o ambiente virtual, e o profissional que não se preparar para isso, infelizmente, será pego de surpresa.

Fontes:

CNN. Levantamento mostra que ataques cibernéticos no Brasil cresceram 94%. Disponível em: < https://www.cnnbrasil.com.br/tecnologia/levantamento-mostra-que-ataques-ciberneticos-no-brasil-cresceram-94/#:~:text=O%20Brasil%20registrou%20no%20primeiro,16%2C2%20bilh%C3%B5es%20de%20registros.>. Acesso em: 10 setembro 2022.

OABNACIONAL. Brasil tem 1 advogado a cada 164 habitantes; CFOAB se preocupa com qualidade dos cursos jurídicos. Disponível em: <https://www.oab.org.br/noticia/59992/brasil-tem-1-advogado-a-cada-164-habitantes-cfoab-se-preocupa-com-qualidade-dos-cursos-juridicos#:~:text=O%20Brasil%20%C3%A9%20o%20pa%C3%ADs,milh%C3%B5es%20de%20pessoas%20(IBGE).>. Acesso em: 10 setembro 2022.

UFG. Brasil: o maior complexo industrial de produção de bacharéis em direito. Disponível em: <https://www.direito.ufg.br/n/815-brasil-o-maior-complexo-industrial-de-producao-de-bachareis-em-direito#:~:text=O%20Brasil%20tem%20mais%20faculdades,soma%20chega%20a%201.100%20universidades.>. Acesso em: 10 setembro 2022.

Herbert Toppani Oliveira
Artigo: Quais motivos me levaram a buscar conhecimento em tecnologia e segurança da informação
Área: GraduaçãoDefesa Cibernética

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